Fibromialgia e a dor de não ser compreendida.
- Vladerson Xavier
- 21 de jun. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 24 de jun. de 2024
Sabe-se que cerca de 80 a 90% das portadoras de fibromialgia são do sexo feminino. Trata-se de uma doença que não tem causa definida e que não pode ser detectada por exames laboratoriais ou radiológicos. No entanto, a doença está presente, pois a dor sentida é real, vivida e crônica.
Sintomas como rigidez corporal e nas articulações, dores de cabeça frequentes, cansaço constante e a sensação de não ter descansado ao acordar todas as manhãs, além da ansiedade gerada a cada resultado de exame que não consegue correlacionar o que a pessoa sente com o que os exames laboratoriais apuraram, são companhias constantes de quem sofre de fibromialgia.
“Eu estava em tratamento há 1 ano, dos quais 8 meses foram online, o que prejudicou a análise. Havia aproximadamente 4 meses que o tratamento era presencial, mas as dores não melhoravam e apareciam em regiões diferentes. Os exames clínicos, que a princípio estavam alterados e semelhantes aos de artrite reumatoide, resultaram inicialmente no diagnóstico de AR. No entanto, os exames de acompanhamento posteriores deram resultados normais.”
T.E., 35 anos.

Quando se escuta, enfim, o diagnóstico do médico, depois de tantos exames, consultas e remédios, é normal que os pacientes reajam com incredulidade. Afinal, "como posso sentir tanta dor e essa dor não ser detectada por reumatologistas, ortopedistas, neurologistas, dentre tantas outras especialidades médicas?", se pergunta a pessoa que sofre.
A fibromialgia não é palpável nem visível para os outros, e quando estes não compreendem o que está acontecendo dentro da pessoa que sofre desta condição, surgem os julgamentos e os deboches. "Você só está estressada", "Isso não é nada demais", "Fulana está fingindo, só para não vir trabalhar".
"...e as dores, a fadiga, a sensibilidade aumentava, fora o transtorno de não descobrir porque a medicação não funcionava. Isso influenciando em todos os aspectos da vida, pois eu não tinha ânimo para nada."
T.E., 35 anos.
Que dor é essa que tanto aflige essas mulheres, que não são compreendidas e até mesmo julgadas por algo que sentem e não podem provar? Cientistas e especialistas da área médica afirmam que a dor é uma forma que o organismo utiliza para expressar algo que não está funcionando bem. É como um alerta que surge quando se detecta algo nocivo à sua homeostase (capacidade do organismo de se manter constante e equilibrado). Quando essa dor excede sua função de indicar uma disfunção no corpo e se torna crônica, ela é uma dor patológica, pois comprometerá seriamente a qualidade de vida da pessoa que a sofre e também é psicogênica, pois é de uma condição também psicológica.
Então, surge a pergunta: "O que está errado dentro de mim?" Essa é a pergunta comum ao se descobrir o propósito desse alarme interno chamado "dor". No entanto, devemos lembrar que somos seres sociais, que estamos em contato com o ambiente o tempo todo e que influenciamos e somos influenciados por ele. Toda essa troca com o ambiente pode ser saudável ou prejudicial, dependendo exclusivamente de como reagimos ou internalizamos tudo isso. Não é somente o que esta errado "dentro", mas sim o que também do lado de "fora" não está indo bem.
Família, relacionamentos, trabalho, tudo isso influencia nosso equilíbrio interno. Até mesmo a forma como aprendemos a ser no mundo, transmitida por nossos pais, pode ser adoecedora. Cobranças excessivas feitas na infância podem gerar adultos com um nível de autoexigência altíssimo, que buscarão, de forma inconsciente, cumprir aquilo que lhes foi exigido quando eram pequenos. O corpo, sabendo que é impossível cumprir essas metas, fará o possível para equilibrar as coisas, mesmo que isso signifique gerar dor para que a pessoa pare um pouco e finalmente observe o que está errado ao seu redor e dentro de si. Para isso, é necessário o auxílio de médicos especializados, mas também de apoio psicológico. Compreender nossas relações com o mundo externo e conosco mesmos nos ajuda a entender os alarmes que nosso corpo dispara em momentos de tensão. A busca pela terapia psicológica, aliada ao acompanhamento médico, é fundamental para alcançar uma melhora significativa no quadro de fibromialgia, podendo resultar em uma melhora na qualidade de vida dessas pessoas.
É essencial que a sociedade compreenda e valide a realidade das pessoas portadoras de fibromialgia, reconhecendo que a dor e os sintomas vivenciados são genuínos e incapacitantes. A empatia e o apoio dos familiares, amigos e colegas de trabalho são cruciais para o bem-estar dos pacientes, que já enfrentam uma batalha diária contra uma condição invisível. A busca por tratamento multidisciplinar, combinando intervenções médicas e psicológicas, pode oferecer um caminho para a melhoria da qualidade de vida, permitindo que essas mulheres se sintam compreendidas e apoiadas em sua jornada. Somente com a conscientização e o respeito por parte de todos é possível criar um ambiente onde quem sofre de fibromialgia possa encontrar alívio e esperança.
Referências Bibliográficas:
Barbosa, Maria Elizabeth de Abreu, A mulher fibromiálgica: suas dores, suas defesas e seu tratamento no enfoque gestáltico. CEUB, julho de 2009, disponível em https://repositorio.uniceub.br/jspui/handle/123456789/2655, acesso em 21 junho, 2024.